MAGNETISMO
Na conclusão de O Livro dos Espíritos, capítulo I,
Kardec afirma: “Quem, de magnetismo
terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação
do imã, se movimentam em todas as direções numa bacia com água, dificilmente
poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do Universo e da marcha
dos mundos”.
Essa afirmação de Kardec não se restringe apenas ao
magnetismo consistente nos corpos celestes, mas se estende ao magnetismo nas
suas mais variadas configurações e que está presente em todas partículas com as
quais se constituem o micro e o macro Universo. É através desse fluido elétrico
que os seres pensantes se atraem ou se repelem e se influenciam mutuamente
segundo seus pensamentos, suas emoções e seus sentimentos.
Na pergunta 388, de O livro dos Espíritos, Kardec
indaga:
“Os
encontros, que costumam dar-se, de algumas pessoas e que comumente se atribuem
ao acaso, não serão efeito de uma certa relação de simpatia?
E obteve a
seguinte resposta: “Entre os seres
pensantes há ligação que ainda não conheceis. O magnetismo é o piloto desta
ciência, que mais tarde compreendereis melhor”.
Esta resposta dos espíritos coloca o magnetismo como
piloto dessa ciência. Quer dizer, está no comando dos acontecimentos e é ele
que atua para que haja tal encontro. Ou seja, quando necessitamos compartilhar
de uma convivência com alguém, nosso encontro se dará infalivelmente, pois
seremos atraídos mutuamente por força de uma imantação magnética que liga os
nossos destinos para uma convivência em comum.
Essa imantação é construída através das nossas ações
praticadas durante nossas vidas sucessivas segundo as quais não só nos
imantamos às pessoas, mas também aos acontecimentos que irão compor o roteiro
das nossas provações e resgates enquanto encarnados neste mundo de expiação e
prova.
É através do magnetismo cósmico ou fluido universal
que nos imantamos e nos submetemos às leis naturais e divinas que nos
impulsionam na direção das nossas necessidades evolutivas, situando-nos
exatamente onde merecemos estar e com quem devemos estar segundo as leis de
causa e efeito.
Em O Livro dos Espíritos, no capítulo da Intervenção
dos Espíritos, os espíritos afirmam: “O
Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma imensidade de fenômenos sobre
os quais a ignorância teceu um sem-número de fábulas, em que os fatos se
apresentam exagerados pela imaginação. O conhecimento lúcido dessas duas
ciências que, a bem dizer, formam uma única, revela a realidade das coisas e
suas verdadeiras causas”.
Realmente, o estudo do Espiritismo sem uma
compreensão maior do magnetismo fica incompleto, pois o Espiritismo nos revela
a natureza espiritual do ser humano e nos esclarece sobre as leis naturais e
divinas às quais todos os seres estão submetidos, e o magnetismo por sua vez
nos revela o meio por onde essas leis se cumprem.
Assim como tudo se origina de uma transformação do
fluido universal, o magnetismo ou fluido magnético também é uma modificação do
fluido universal e não difere do fluido vital revelado pelos espíritos e que
está presente em todos os corpos orgânicos.
No capítulo intitulado Do Princípio Vital, de O
Livro dos Espíritos, os espíritos fazem uma analogia interessante: “Um aparelho elétrico, como todos os corpos
da Natureza, contém eletricidade em estado latente. Os fenômenos elétricos,
porém, não se produzem senão quando o fluido elétrico é posto em atividade por
uma causa especial. Poder-se-ia então dizer que o aparelho está vivo. Vindo a
cessar a causa da atividade, cessa o fenômeno: o aparelho volta ao estado de
inércia.”
“Os corpos
orgânicos são, assim, uma espécie de pilhas ou aparelhos elétricos, nos quais a
atividade do fluido determina o fenômeno da vida. A cessação dessa atividade
causa a morte. A quantidade de fluido vital não é absoluta em todos os seres
orgânicos. Varia segundo as espécies e não é constante, quer em cada indivíduo,
quer nos indivíduos de uma espécie. Alguns há, que se acham, por assim dizer
saturados desse fluido, enquanto os outros o possuem em quantidade apenas
suficiente. Daí, para alguns, vida mais ativa, mais tenaz e, de certo modo,
superabundante. A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se
insuficiente para a conservação da vida, se não for renovada pela absorção e
assimilação das substâncias que o contêm. O fluido vital se transmite de um
indivíduo a outro. Aquele que o tiver em maior porção pode dá-lo a um que o
tenha de menos e em certos casos prolongar a vida prestes a extinguir-se.”
O progresso no estudo do eletromagnetismo, ocorrido
principalmente no século XIX, provocou uma mudança a respeito dos conceitos da
Ciência sobre a energia.
Segundo as teorias quânticas, a troca de energia a
distância se produz em conseqüência das ondas eletromagnéticas, que viajam no
espaço à velocidade da luz. Tais ondas, constituídas por fótons, atuam sobre as
partículas do meio e dos corpos.
Os apontamentos dos espíritos e o estudo da física
quântica nos induzem a uma compreensão ampliada do que consiste o fluido
universal e nos dá uma idéia da importância do magnetismo e da sua função no
contexto das relações entre os mundos e entres os seres, o qual podemos
defini-lo como o veículo condutor dos pensamentos e da vontade do Criador e de
todos os seres pensantes.
Na parte 2, cap. IX de O Livro dos Espíritos, os
espíritos afirmam: “...o fluido universal
entrelaça todos os mundos, tornando-os solidários; veículo imenso da transmissão
dos pensamentos, como o ar é, para nós, o da transmissão do som.”
Se, segundo a ciência, as ondas eletromagnéticas
atuam sobre as partículas do meio e dos corpos e, considerando que hoje o
pensamento é reconhecido como pulsos eletromagnéticos, torna-se clara a força
incomensurável com que o pensamento atua sobre os corpos e partículas quando
direcionado sob o impulso de uma vigorosa vontade ou desejo.
Ainda em O Livro dos Espíritos, pergunta 424:
Por meio de
cuidados dispensados a tempo, podem reatar-se laços prestes a se desfazerem e
restituir-se à vida um ser que definitivamente morreria se não fosse socorrido?
Resposta: “Sem
dúvida e todos os dias tendes a prova disso. O magnetismo, em tais casos,
constitui, muitas vezes, poderoso meio de ação, porque restitui ao corpo o
fluido vital que lhe falta para manter o funcionamento dos órgãos”.
Segundo Franz Anton Mesmer (1733-1815), médico
austríaco, todo ser vivo seria dotado de um fluido magnético capaz de se
transmitir a outros indivíduos, estabelecendo-se, assim, influências
psicossomáticas recíprocas, inclusive com fins terapêuticos.
Considerando o magnetismo como condutor da vontade e
dos pensamentos dos seres pensantes atuando incessantemente sobre as partículas
e os corpos, sua ação pode ser benéfica ou maléfica, dependendo da fonte que o
irradia. Neste caso, a fonte geradora, ou seja, o ser pensante, pode ser
comparado a uma usina de eletricidade e os seus pensamentos e sentimentos os
transformadores que graduam e determinam sua potência e qualidade. Nada melhor
para a comprovação dessa realidade do que os fatos observados e que são muito
numerosos, registrando a ação magnética direcionada através dos pensamentos e
dos sentimentos humanos.
Lembro-me quando eu contava apenas nove anos de
idade e como sempre fazíamos, estava eu e minha mãe no portão de casa
aguardando meu pai retornar do trabalho quando uma vizinha parou para conversar
com minha mãe. Em determinado momento, ela voltou-se para a jardineira onde
minha mãe cultivava suas plantas e, demonstrando uma certa indignação, afirmou:
– Dona Aurora!
Que avenca linda! Por que a minha nunca ficou tão bonita?
Logo depois
ela foi embora. Minha mãe, após alguns instantes, apontou para a avenca cujas
folhas haviam se fechado como se estivessem murchando, e explicou-me:
– Viu meu
filho, o que o pensamento de despeito e de inveja da nossa vizinha fez com a
nossa plantinha? Guarde esta lição! Nunca use o seu pensamento para invejar ou
odiar alguém. Da mesma forma que a planta se ressentiu do magnetismo negativo
da nossa vizinha, as pessoas mais sensíveis também se ressentem e podem até
adoecer. Mas, se você usar os seus pensamentos para ajudar, envolvendo-as com o
seu amor, o teu magnetismo poderá até curá-las das suas enfermidades.
Dizendo isso, voltou-se para a planta e impôs suas
mãos sobre ela e orou. Antes que o meu pai retornasse do trabalho, a avenca já
havia se recuperado. Minha mãe passou-me esta lição com conhecimento de causa,
pois durante toda sua vida aliviou e curou muita gente impondo suas mãos
revestidas da generosidade e do amor que nos ensina o Espiritismo Cristão.
A avenca é uma das plantas mais sensíveis, por isso
logo se ressentiu da carga magnética negativa que enfraqueceu o fluido vital
que lhe garantia a vida. O mesmo ocorre com os animais, cujo efeito demora um
pouco mais para se manifestar, mas se não socorrido este acabará morrendo.
No ano de 1970, eu morava em uma casa com um quintal
muito grande. Como eu gosto de animais, passei a criar algumas galinhas, um
casal de gansos e um peru. Certo dia eu estava muito feliz, pois a gansa havia
chocado seus ovos trazendo à vida seis filhotes. Uma conhecida nossa, dona do
armazém onde realizávamos nossas compras, ficou sabendo e quis ver os gansos,
pois, segundo ela, eles não procriavam facilmente no cativeiro. Certo dia ela
apareceu em casa e logo ao entrar no quintal demonstrou ser uma apaixonada pela
criação de gansos e revelou-me que possuía três casais que nunca haviam
procriado. Percebi no seu olhar e semblante uma certa indignação. Ficou algum
tempo olhando para os gansos admirando-os e elogiando a beleza de todas as aves
do meu quintal, logo depois se despediu e partiu.
No dia seguinte da sua visita, as galinhas não
desceram do poleiro para se alimentarem e ali ficaram defecando fezes líquidas
até que acabaram morrendo. No terceiro dia foi o galo que, à semelhança das
galinhas, permaneceu no poleiro até a morte. No quarto dia morreram os gansos,
entretanto, o peru continuou vivo, mas apresentava sinais de que também
morreria, pos já não descia do poleiro e não se alimentava. Foi quando
conversando com minha mãe chegamos à conclusão de aquela mulher poderia estar
por trás daquelas mortes, pois nenhum remédio veterinário conseguira curá-los.
Foi então que resolvemos tentar salvar o peru magnetizando-o. Qual não foi a
nossa surpresa quando depois de algumas horas após atuarmos sobre ele,
apresentava uma visível revitalização recuperando-se completamente ao final do
dia.
A ação magnética negativa emitida pela mulher
enfraqueceu o fluido vital dos animais, levando-os à morte em uma sinistra
seqüência: primeiramente morreram os mais fracos, no caso as galinhas; depois o
galo, e mais tarde, os gansos. Porém, o peru, por apresentar uma constituição
física mais forte, conseguiu resistir mais tempo até que pudéssemos socorrê-lo.
A ação magnética que direcionamos sobre o peru
operou no sentido inverso e repôs o fluido vital enfraquecido pelo magnetismo
maléfico da mulher.
Quando observamos os relatos acima onde ambas as
mulheres, com um simples olhar, alteraram as condições físicas da planta e dos
animais, fica claro para nós que a ação magnética não depende de gestos manuais
e nem de técnicas. O magnetismo não é captado, é próprio do indivíduo. A
simples presença de uma pessoa dotada de bons sentimentos pode causar uma
influência magnética benéfica nas pessoas a sua volta, da mesma forma que uma
pessoa dotada de maus sentimentos pode causar uma influência maléfica.
O espírito reencarnado através do magnetismo que
irradia a sua volta revela sua índole e grava o seu perfil mental nos seus
objetos de uso pessoal e no ambiente onde vive, impregnando-os com o seu
psiquismo.
Certa vez, quando eu administrava a construção de um
prédio industrial na capital do estado de São Paulo, ocorreu um fato que
ilustra bem esse fenômeno de impregnação psíquica magnética nos objetos de uso
pessoal. Um dos meus funcionários, o encarregado da obra, foi acometido de um
mal estranho. Todo dia chegava no canteiro da obra sentindo-se bem, mas assim
que começava a trabalhar, passava a sofrer de cólicas intestinais violentas
sendo obrigado a retornar para casa, porém, assim que deixava a obra, sentia-se
muito bem novamente. Isso se repetiu durantes três dias. No quarto dia
conversávamos enquanto ele se trocava no barraco da obra e observando-o, fui
intuído de que o problema estava na roupa que usava para trabalhar, então
perguntei a ele a origem da roupa e ele afirmou que a calça e a cinta que ele
usava ganhara de uma vizinha e que era a roupa do seu marido que há pouco tempo
havia desencarnado de câncer intestinal. Diante dessa afirmação, a qual
confirmava a minha intuição, eu atuei com o meu magnetismo sobre as calças e a
cinta. A partir daquele dia não mais sentiu as cólicas que o importunavam.
É evidente que a calça e a cinta do
recém-desencarnado ainda se mantinham impregnadas do seu psiquismo de dor e de
sofrimento que havia precedido à sua passagem para o mundo dos espíritos, cuja
atuação magnética alterava a estabilidade das moléculas situadas na região
gástrico intestinal do meu funcionário provocando dores semelhantes as que
havia sofrido.
Aqui fizemos um pálido estudo sobre o magnetismo,
pois seria impossível em um espaço diminuto de uma matéria se aprofundar mais
num assunto tão empolgante e esclarecedor, porém, tenho a certeza que foi o
suficiente para compreendermos a profunda visão de Kardec quando afirmou que
ninguém imagina que no brinquedo dos patinhos imantados está o segredo do
mecanismo do Universo e da marcha dos mundos.
Escrito por Nelson Moraes.
Fonte: Revista Cristã de Espiritismo, edição 46.
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