Doutrinar é
argumentar com lógica e com base no Evangelho, demonstrar que as atitudes
incorretas prejudicam principalmente quem as praticam, levando o necessitado a
modificar sentimentos cristalizados, destorcidos, errôneos.
A técnica de
esclarecer Espíritos foi criada por Allan Kardec, em substituição às práticas
bárbaras de exorcismo, muito usadas na Antiguidade. O mestre de Lion utilizou a
doutrinação como forma de esclarecimento através de reunião mediúnica.
Para nosso
conhecimento, colocou no Livro dos Espíritos [LE-qst 100 a 127], uma
classificação se baseando no grau de imperfeições dos Espíritos ainda não
vencidas e qualidades adquiridas; esclarecendo, contudo, que a classificação
nada tem de absoluta, pois, de um grau a outro, a transição é insensível, que
nos limites, as diferenças se apagam como nos reinos da natureza, nas cores do
arco-íris.
Admite Kardec
três grandes divisões:
• 1ª ordem - Espíritos Puros
• 2ª ordem - Espíritos Bons
• 3ª ordem - Espíritos Imperfeitos
No momento
interessa-nos a 3ª ordem, pois na arte de doutrinar estaremos lidando com uma
gama de Espíritos de hierarquias infelizes e diversas, sendo importante que
tenhamos em mente que a doutrinação é um convite à transformação interior, um
apelo à reflexão sobre os problemas de que o Espírito é portador. Vejamos as
características desses Espíritos:
Espíritos impuros: passam conceitos maldosos, insuflam a
discórdia, usam de disfarces para melhor enganar. Suas comunicações revelam a
baixeza de suas inclinações. Fazem do mal o objeto de suas preocupações;
Espíritos pseudo-sábios: seus conceitos são uma mistura de verdades com
erros absurdos. Neles prevalecem a inveja e a presunção;
Espíritos neutros: nem bons nem maus. São apegados às coisas do
mundo (família, haveres, posses);
Espíritos levianos: metem-se em tudo e a tudo respondem. São
mentirosos, inconseqüentes, zombeteiros, fazem intrigas usando uma linguagem
por vezes engraçada.
Esta escala
nos oferece um quadro psicológico da pouca evolução espiritual dos homens.
Os Espíritos
inferiores usam de artimanhas que nos iludem e se vangloriam quando o
conseguem.
Os Espíritos
levianos, irônicos, são talvez os mais difíceis para o diálogo. Vêm para
provocar o doutrinador. Necessárias a humildade e a paciência no trato com
esses irmãos. Somente uma atitude muito serena pode desarmá-los.
Dialogar com
os Espíritos que pedem espaço através da mediunidade com propostas iluminativas
é, então, a arte de compreender os que ignoram o desequilíbrio em que de
debatem.
Cabe ao
doutrinador apontar-lhes o rumo, despertando-os para as verdades eternas, numa
visão ampla da vida.
Cada
doutrinação, face aos fatores que a motivam, tem características especiais,
embora, genericamente sejam semelhantes.
Há que se
levar em conta as resistências morais do comunicante, já que vem de desajustes
vários.
O fundamental
é despertá-lo para uma visão real da própria situação.
Ao
considerarmos os casos mais comuns de manifestações, verificamos que os
Espíritos comunicantes são de 2 categorias principais:
a) Os que
comparecem espontaneamente obedecendo à própria vontade, atraídos por
determinadas condições;
b) Os que são
trazidos pelos mentores; são Espíritos perturbados, vingativos, habitantes de
zonas purgatórias.
Necessidade de doutrinação
Precisamos
ressaltar que:
a) Os
Espíritos são atendidos também no plano espiritual;
b) Nem todos
estão em condições de serem socorridos ali, em virtude da grosseira
materialidade que lhes flagela o campo mental tornando-os insensíveis à
cooperação de entidades superiores.
O contato com
a organização física do médium fá-los-á sentir mais intensamente a ajuda
doutrinária e vibracional destinada ao reajuste. O fluido humano emanado do organismo
do médium é-lhes e necessário ao equilíbrio.
"Esses Espíritos perturbados pela morte,
acreditam ainda muito tempo depois, pertencerem à vida terrestre. Não lhes
permitindo seus fluidos grosseiros o entrarem em relação com Espíritos mais
adiantados, são levados aos grupos de estudo para serem instruídos acerca de
sua nova condição."
"São companheiros que trazem ainda a mente
em teor vibratório idêntico ao da existência na carne. Na fase em que estagiam,
mais depressa se ajustam com o auxílio dos encarnados, em cuja faixa de
impressões ainda respiram."
Daí,
desaparecerem as possíveis dúvidas quanto ao nosso dever de auxiliar o
necessitado através do diálogo em um grupo mediúnico.
Alguns
espíritas, diz Herculano Pires ( ), pretendem suprimir a doutrinação, alegando
que esta é realizada com mais eficiência pelos bons Espíritos no plano
espiritual. Essa é uma prova de ignorância generalizada da Doutrina no próprio
meio espírita, pois nela tudo se define em termos de relação e evolução. Os
Espíritos sofredores permanecem apegados à matéria e à vida terrena, razão pela
qual os Protetores Espirituais têm dificuldade de comunicar-se com eles. O seu
envolvimento com os fluidos e as emanações ectoplásmicas próprias da sessão
mediúnica lhes é, portanto, necessário, o que evidencia que a reunião mediúnica
e a doutrinação humana dos desencarnados são uma necessidade. ( )
A morte não
tem o poder de transformar ninguém. Cada Espírito, ao desencarnar, leva consigo
suas virtudes e defeitos, continuando na vida espiritual a ser o que era quando
ligado ao corpo, com seus vícios e condicionamentos materiais, dos quais se
liberta pouco a pouco. Além disso,
confundido pelas lições recebidas das religiões tradicionais, o Espírito não
encontra no Além aquilo que esperava: nem céu, nem inferno, muito menos o
repouso até o juízo final. Ao contrário, ele aí encontra a dura realidade
espiritual, fundamentada na existência da lei de causa e efeito, onde cada qual
se mostra como é, sem disfarces, falsas aparências ou o verniz social.
Sua condição
espiritual determina sua aura psíquica e seu peso específico, frutos ambos da
elevação maior ou menor de seus pensamentos, sentimentos e atos. Quanto mais
elevados estes forem, mais rarefeito será seu perispírito, de modo que cada
habitante do mundo espiritual se coloca em seu merecido e devido lugar, sem
privilégios de qualquer espécie.
Os que se
encontram em posição de perturbação por falta de esclarecimento adequado, ou
por renitência no mal, necessitam ser orientados, para que, em se modificando
mentalmente, melhorem sua condição espiritual. Como muitas vezes estão ainda
cheios de condicionamentos materiais, tais Espíritos repelem a ação mais direta
dos orientadores desencarnados, razão pela qual requerem um contato com os
encarnados, naturalmente mais afeitos aos fluidos densos da matéria. É o que
ocorre nas sessões mediúnicas.
Os
orientadores desencarnados lhes falam, mas não conseguem atingi-los. Em
contato, porém, com um médium, pelo fato de terem vibrações assemelhadas, há a
possibilidade de entendimento. Surge, então, a doutrinação, que visa a
modificar sua forma de pensar e de agir, buscando sua melhora.
Ensinando-lhes
o caminho do bem e do perdão, despertando-os para a necessidade de renovação
espiritual, ajudamo-los a descobrir o Evangelho de Jesus para a sua libertação
integral. ( ) É por isso que a doutrinação dos Espíritos desencarnados é de
grande importância para apressar o progresso dos companheiros que estagiam no
mundo espiritual, trazendo benéficos resultados para o mundo corpóreo. ( )
Diz-nos Edgard
Armond ( ) que as sessões de doutrinação de Espíritos objetivam esclarecer
entidades desencarnadas a respeito de sua própria situação espiritual,
orientando-as no sentido do seu despertamento no plano invisível e o seu
subseqüente equilíbrio e progresso espirituais.
Para facilitar
o seu despertamento ou o seu esclarecimento, Espíritos jungidos ao habitat
terrestre por força da lei de afinidade são trazidos às sessões de doutrinação
e aí ligados momentaneamente a médiuns de incorporação, com o que, no contato
com os fluidos benéficos da corrente aí formada, acrescidos dos ensinamentos
recebidos do doutrinador encarnado, logram quase sempre despertar e retomar o
caminho do aperfeiçoamento espiritual.
Doutrinar
Espíritos não é, porém, tarefa fácil, pois exige conhecimentos doutrinários
bastante desenvolvidos e senso psicológico para que o doutrinador possa captar
com rapidez a verdadeira feição moral do caso que defronta e, em conseqüência,
encaminhar a doutrinação no devido rumo.
É necessário
ainda ao doutrinador possuir paciência e bondade, humildade e tolerância,
porque somente com auxílio dessas virtudes poderá enfrentar os casos mais
difíceis em que se manifestam Espíritos maldosos, zombeteiros ou
empedernidos.
Segundo
observa André Luiz ( ), a pessoa envolvida nessa tarefa não pode esquecer que a
Espiritualidade Superior confia nela e dela aguarda o cultivo de determinados
atributos como os que se seguem:
a) direção e
discernimento;
c) autoridade
fundamentada no exemplo;
d) hábito de
estudo e oração;
e) dignidade e
respeito para com todos;
f) afeição sem
privilégios;
h) sinceridade
e entendimento;
i) conversação
construtiva.
A doutrinação,
informa Herculano Pires ( ), existe em todos os planos, mas o trabalho mais
rude e pesado é o que se processa em nosso mundo. Orgulhoso e inútil, e até
mesmo prejudicial, será o doutrinador que se julgar capaz de doutrinar por si
mesmo. Sua eficiência depende sempre de sua humildade, que lhe permite
compreender a necessidade de ser auxiliado pelos bons Espíritos. O doutrinador
que não compreende esse princípio precisa de doutrinação e esclarecimento, para
alijar do seu espírito a vaidade e a pretensão. Só pode realmente doutrinar
Espíritos quem tiver amor e humildade.
Dito isto,
Herculano Pires observa, na mesma obra já citada, que é importante não
confundir humildade com atitudes piegas, com melosidade. Muitas vezes a
doutrinação exige atitudes enérgicas, não ofensivas nem agressivas, mas firmes
e imperiosas. É o momento em que o doutrinador trata o obsessor com autoridade
moral, a única autoridade que podemos ter sobre os Espíritos inferiores, que sentem
a nossa autoridade e se submetem a ela, em virtude da força moral de que
dispusermos. Essa autoridade, no entanto, só conseguimos adquirir por meio de
uma vivência digna no mundo, sendo sempre corretos em nossas intenções e em
nossos atos, em todos os sentidos, porquanto as nossas falhas morais não
combatidas, não controladas, diminuem nossa autoridade sobre os obsessores.
Métodos a serem utilizados
Na tarefa de
doutrinação dos Espíritos que se comunicam nas sessões mediúnicas não existe
regra fixa, pois cada caso é único. Como a doutrinação não objetiva somente
Espíritos sofredores, mas igualmente Espíritos ignorantes que ainda permanecem
em esferas de embrutecimento, e Espíritos maldosos que se devotam ao mal
conscientemente, bem variado deve ser o modo de doutrinar uns e outros.
Há,
entretanto, determinadas regras que não podem deixar de ser aplicadas nessa
tarefa:
a) receber com
atenção e interesse as comunicações;
b) ouvi-las
com paciência e imbuído da melhor intenção de ajudar;
c) envolver o
comunicante em um clima de vibrações fraternais, dando oportunidade para que
ele fale;
d) estabelecer
em tempo oportuno um diálogo amigo e esclarecedor;
e) evitar
acusações e desafios desnecessários;
f) confortar e
amparar através do esclarecimento;
g) não
discutir com exaltação tentando impor seu ponto de vista;
h) não receber
a todos como se fossem embusteiros e agentes do mal;
i) ser preciso
e enérgico na hora necessária, sem ser cruel e agressivo;
j) evitar o
tom de discurso e também as longas preleções;
l) ser claro,
objetivo, honesto, amigo, fraterno, buscando dar ao comunicante aquilo que
gostaria de receber se no lugar dele estivesse.
André Luiz ( )
atribui o serviço de doutrinação à equipe de médiuns esclarecedores, a quem ele
sugere a observância da seguinte postura para o bom cumprimento de sua tarefa:
a) guardar
atenção no campo intuitivo, a fim de registar com segurança as sugestões e os
pensamentos dos benfeitores espirituais que comandam as reuniões;
b) tocar no
corpo do médium em transe somente quando necessário;
c) cultivar o
tato psicológico, evitando atitudes ou palavras violentas, mas fugindo da
doçura sistemática que anestesia a mente sem renová-la, na convicção de que é
preciso aliar raciocínio e sentimento, compaixão e lógica, a fim de que a
aplicação do socorro verbalista alcance o máximo rendimento;
d) estudar os
casos de obsessão surgidos na equipe mediúnica, que devam ser tratados na
órbita da psiquiatria, para que a assistência médica seja tomada na medida
aconselhável;
e) impedir a
presença de crianças nas tarefas da desobsessão.
André Luiz ( )
recomenda, ainda, a dirigentes e esclarecedores e a todos os que participam das
reuniões mediúnicas, que tenham sempre em mente os 13 seguintes princípios:
1o Desobsessão
não se realiza sem a luz do raciocínio, mas não atinge os fins a que se propõe,
sem as fontes profundas do sentimento.
2o
Esclarecimento aos desencarnados sofredores se assemelha à psicoterapia e a
reunião é tratamento em grupo, na qual, sempre que possível, deverão ser
aplicados os métodos evangélicos.
3o A parte
essencial ao entendimento é atingir o centro de interesse do Espírito preso a
idéias fixas, para que se lhes descongestione o campo mental, sendo de todo
impróprio, por causa disso, qualquer discurso ou divagação desnecessária.
4o Os
manifestantes desencarnados, seja qual for sua conduta na reunião, são, na
realidade, Espíritos carecedores de compreensão e tratamento adequados, a
exigir paciência, entendimento, socorro e devotamento fraternais.
5o Cada
Espírito sofredor deve ser recebido como se fosse um familiar nosso
extremamente querido; agindo assim, acertaremos com a porta íntima através da
qual lhe falaremos ao coração.
6o Pelo que
ouça do manifestante, o esclarecedor deduzirá qual o sexo a que o Espírito
comunicante tenha pertencido na precedente existência, para que a conversação
elucidativa se efetue na linha psicológica ideal.
7o Os
problemas de animismo ou de mistificação inconsciente que porventura surjam no
grupo devem ser analisados sem espírito de censura ou de escândalo, cabendo ao dirigente
fazer todo o possível para esclarecer com paciência e caridade os médiuns e os
desencarnados envolvidos nesses processos.
8o É preciso
anular qualquer intento de discussão ou desafio com os Espíritos comunicantes,
dando mesmo razão, algumas vezes, aos manifestantes infelizes e obsessores.
9o Nem sempre
a desobsessão real consiste em desfazer o processo obsessivo de imediato,
porquanto em diversos casos a separação de obsidiado e obsessor deve ser
praticada lentamente.
10o Quando
necessário, o esclarecedor poderá praticar a hipnose construtiva no ânimo dos
Espíritos sofredores, quer usando a sonoterapia para entregá-los à direção e ao
tratamento dos instrutores espirituais presentes, com a projeção de quadros
mentais proveitosos ao esclarecimento, quer sugerindo a produção e ministração
de medicamentos ou recursos de contenção em favor dos manifestantes que se
mostrem menos acessíveis à enfermagem do grupo.
11o Não se
deve constranger os médiuns psicofônicos a receberem os desencarnados
presentes, atentos ao preceito da espontaneidade, fator essencial ao êxito do
intercâmbio.
12o O
esclarecimento não deve se alongar em demasia, perdurando a palestra educativa
em torno de dez minutos, ressalvadas as situações excepcionais.
13o Se o
manifestante perturbado se fixar no braseiro da revolta ou na sombra da queixa,
indiferente ou recalcitrante, o esclarecedor deve solicitar a cooperação dos
benfeitores espirituais presentes para que o necessitado rebelde seja confiado
à assistência espiritual especializada. Nesse caso, a hipnose benéfica poderá
ser utilizada para que o magnetismo balsamizante asserene o companheiro
perturbado e o afastamento dele seja efetivado.
Reportando-se
aos casos em que os Espíritos comunicantes se mostram demasiado renitentes, a
ponto de perturbar os trabalhos, sugere Herculano Pires ( ) que aí o melhor a
fazer é chamar o médium a si mesmo, fazendo-o desligar-se do Espírito
perturbador. O episódio servirá ainda para reforçar a autoconfiança do médium,
demonstrando-lhe que pode interromper por sua vontade as comunicações
perturbadoras. O Espírito geralmente voltará em outras sessões, mas então já
tocado pelo efeito da doutrinação e desiludido de sua pretensão de dominar o
ambiente.
Hermínio C.
Miranda ( ) afirma que, no início, os Espíritos em estado de perturbação não
estão em condições psicológicas adequadas à pregação doutrinária. Necessitam,
então, de primeiros socorros, de quem os ouça com paciência e tolerância. “A
doutrinação virá no momento oportuno, e, antes que o doutrinador possa
dedicar-se a este aspecto específico, ele deve estar preparado para discutir o
problema pessoal do espírito, a fim de obter dele a informação de que
necessita”, esclarece Hermínio.
Divaldo P.
Franco ( ) concorda: “Não podemos ter a presunção de fazer o que a Divindade
tem paciência no realizar. Essa questão de esclarecer o Espírito no primeiro
encontro é um ato de invigilância e, às vezes, de leviandade, porque é muito
fácil dizer a alguém que está em perturbação: Você já morreu! É muito difícil
escutar-se esta frase e recebê-la serenamente". E acrescenta: “A nossa
tarefa não é a de dizer verdades, mas a de consolar, porque dizer simplesmente
que o comunicante já desencarnou os Guias também poderiam fazê-lo. Deve-se
entrar em contato com a Entidade, participar de sua dor, consolá-la, e, na
oportunidade que se faça lógica e própria, esclarecer-lhe que já ocorreu o
fenômeno da morte...”. ( )
A tarefa
assemelha-se, assim, ao chamado atendi-mento fraterno que as Casas espíritas
dispensam aos encarnados que as buscam, no qual é mais importante ouvir do que
falar, idéia essa defendida pela conhecida médium e escritora Suely Caldas
Schubert. ( )
A propósito do
assunto, J. Raul Teixeira ( ) sugere: “O doutrinador dispensará, sempre, os
discursos durante a doutrinação, entendendo-se aqui discurso não como a linha
ideológica utilizada, mas sim a falação interminável, que não dá ensejo à outra
parte de se exprimir, de se explicar. Muitas vezes, na ânsia de ver as
Entidades esclarecidas e renovadas, o doutrinador se perde numa excessiva e
cansativa cantilena, de todo improdutiva e exasperante”. “O diálogo com os
desencarnados deverá ser sóbrio e consistente, ponderado e clarificador,
permitindo boa assimilação por parte do Espírito e excelente treino lógico para
o doutrinador.”
Para Roque
Jacintho ( ) a paciência inscreve-se como uma das virtudes maiores de todos os
que se dedicam à tarefa de doutrinação das entidades desencarnadas. “A
paciência, diz ele, é filha do amor-sábio.” Por isso é que, envolvendo os
nossos semelhantes com as vibrações de nosso amor, poderemos ouvi-los dissertar
longamente sobre seus problemas, sem nos atirarmos à empreitada de demoli-los
ou censurá-los, pois sabemos que eles se levantarão um dia.
A ironia
jamais nos açulará à ação de revide nem a ímpetos de agressão, porque
acolheremos a nossa humilhação como degraus da escada evolutiva.
Saber ouvir
será tão importante quanto falar.
Saber calar
será tão urgente quanto redargüir.
Saber
pacificar será tão importante quanto reagir.
Saber compreender
será tão importante quanto ser compreendido. ( )
Concluindo,
podemos afirmar que – seja qual for o método adotado – é preciso, para
doutrinar, conhecer a Doutrina Espírita e ter uma conduta que seja a mais
cristã possível, cientes todos nós de que Jesus opera por meio das pessoas que
se dedicam ao bem, como Emmanuel observa na lição que se segue:
"Que os
doutrinadores sinceros se rejubilem, não por submeterem criaturas
desencarnadas, em desespero, convictos de que em tais circunstâncias o bem é
ministrado, não propriamente por eles, em sua feição humana, mas por emissários
de Jesus, caridosos e solícitos, que os utilizam à maneira de canais para a
misericórdia divina; que esse regozijo nasça da oportunidade de servir ao bem,
de consciência sintonizada com o Mestre Divino, entre as certezas doces da fé,
solidamente guardada no coração". ( )
Hábitos inconvenientes que devemos evitar
Diversos
autores têm chamado a atenção para os hábitos, os vícios e as práticas que
precisam ser erradicados das sessões mediúnicas.
Edgard Armond
( ) considera absolutamente inconvenientes as atitudes seguintes:
a) exigir o
nome do Espírito comunicante;
b) crer
cegamente no que diz o Espírito;
c) o
misticismo exagerado;
d) a
verborragia e o falatório inútil, que são próprios de Espíritos mistificadores
e irresponsáveis;
e) a agitação
por parte dos médiuns que batem mãos e pés, bufam, gemem, gritam, contorcem-se
durante a sessão;
g) estabelecer
ordem para os médiuns darem passividade;
h) conferir
hegemonia a determinado médium;
i) abertura e
fechamento da sessão pelos guias;
j) o uso de
roupas e vestimentas especiais.
Emílio Manso
Vieira ( ) chama-nos a atenção para uma outra prática igualmente condenável,
que é o afastamento dos Espíritos obsessores por meio da violência. Os
dirigentes que assim procedem confundem energia serena, fruto da autoridade
moral, com processos violentos de forças vibratórias. André Luiz nos mostra em
“Libertação”, cap. XIV, qual a maneira correta de agir nesses casos,
reabilitando o obsidiado e conquistando o obsessor por meio de elucidações
amoráveis e atitudes dignificantes.
Roque Jacintho
( ) reporta-se a determinadas informações ou perguntas que alguns doutrinadores
apresentam equivocadamente aos comunicantes, tais como:
“Você já
morreu e não pode sentir dores.”
“Ingresse nas
escolas daí para aprender.”
“Você está
sofrendo muito?”
“Por que você
não abandona aquela casa?”
“Você está
doente. Procure um hospital.”
“Por que você
não perdoa?”
Há
doutrinadores, adverte Roque Jacintho ( ), que entendem que acordar de súbito o
Espírito comunicante para a realidade seja um benefício e, por isso, costumam
informá-los, abruptamente, que já estão mortos. O resultado dessa atitude é,
amiúde, a loucura que se instala nos infelizes que desconheciam a própria
morte. Evitemos, portanto, ferir diretamente a questão da morte com os
Espíritos que não sabem que já desencarnaram. Ofereçamos-lhes orientação,
conduzindo os entendimentos dentro do âmbito de suas necessidades pessoais e,
pouco a pouco, eles mesmos compreenderão o fenômeno pelo qual passaram.
Herculano
Pires ( ), em apoio a essa idéia, observa que, se o doutrinador disser
cruamente a esses Espíritos que eles já morreram, mais assustados e confusos
ficarão. Devemos, pois, tratar o Espírito comunicante como se ele estivesse
doente e não desencarnado. Mudando a sua situação mental e emocional, em poucos
instantes ele mesmo perceberá que já passou pelo transe da morte e que se
encontra amparado por familiares e amigos que procuram ajudá-lo.
Abordagem a adotar na doutrinação - Tipos de
Espíritos comunicantes
O doutrinador
deve ler e reler, com atenção e persistência, a escala espírita constante de “O
Livro dos Espíritos” a partir da questão no 100, para bem se informar dos tipos
de Espíritos com que se vai defrontar nas sessões. Essa recomendação feita por
Herculano Pires ( ) tem por fundamento o ensinamento transmitido pelo Espírito
de Sócrates, constante do cap. XVI de “O Livro dos Médiuns”.
Segundo
Sócrates, a escala espírita e o quadro sinótico das diferentes espécies de
médiuns – a que se refere o capítulo XVI de “O Livro dos Médiuns” – devem estar
constantemente sob os olhos de todos os que se ocupam das manifestações, porque
um e outra resumem todos os princípios da Doutrina Espírita e contribuirão,
mais do que supomos, para trazer o Espiritismo ao seu verdadeiro caminho. ( )
Suely Caldas
Schubert ( ) organizou, com base na sua longa experiência na prática da
mediunidade, uma lista de 17 diferentes tipos de Espíritos, tal como se
apresentam nas reuniões mediúnicas, à qual acrescentou uma série de sugestões
concernentes ao tratamento adequado a cada caso.
Eis a lista e
as recomendações propostas pela confreira mineira, salientando-se que nas cinco
primeiras situações os comunicantes devem receber também o socorro do passe:
1. Espíritos que não conseguem falar. Quatro podem ser as causas da mudez: problemas
mentais que interferem no centro da fala, ódio, reflexo de doenças havidas
antes da desencarnação e desejo de não deixar transparecer o que pensam. O
passe e a prece ajudam muito os que, tendo tido problema de mudez quando
encarnados, pensam que continuam mudos. Não se recomenda, em nenhuma das
circunstâncias citadas, forçá-los a falar;
2. Suicidas. Como eles sofrem muito, cabe ao doutrinador socorrê-los,
aliviando-lhes os sofrimentos através do passe. Precisam mais de consolo que de
doutrinação;
3. Alcoólatras e toxicômanos. Nenhum resultado produz falar-lhes sobre a
inconveniência dos vícios. Devemos falar-lhes sobre Jesus e o Evangelho, e, em
caso de delírios, o passe é o meio de aliviá-los;
4. Espíritos dementados. Como não têm consciência de coisa alguma,
devem ser socorridos com passes;
5. Sofredores. Deve-se aliviá-los através da prece e do
passe. A maioria adormece e é levada pelos trabalhadores espirituais;
6. Espíritos que desconhecem a própria
situação. É muito comum o
Espírito ignorar que já desencarnou, mas há indivíduos que não têm condições de
serem informados sobre a própria morte. A explicação deve ser feita com tato,
dosando-se a verdade conforme o caso. Devemos antes infundir-lhes a confiança
em Deus, a idéia de que a vida se processa em vários estágios, que ninguém
morre – a prova mais evidente é ele estar ali falando – e que a vida verdadeira
é a vida espiritual;
7. Espíritos que desejam tomar o tempo da
reunião. Valem-se de vários
artifícios para alongar a conversa e têm resposta para tudo. Não se deve
debater com eles, mas sim levá-los a pensar em si mesmos. De um modo geral,
costumam voltar outras vezes;
8. Irônicos. A ironia de que se utilizam torna difícil o diálogo. Procuram
ferir o doutrinador e os membros do grupo com comentários e críticas mordazes.
Não se deve ficar melindrado com isso, porque é exatamente o que desejam.
Aceitando com humildade suas reprimendas, sem procurar defender-se, o
esclarecedor fará com que fiquem desarmados. Conscientizá-los do verdadeiro
estado em que se encontram, da solidão e da tristeza em que vivem, afastados
dos seus afetos mais caros, eis o caminho a seguir no diálogo;
9. Desafiantes. O doutrinador deve encaminhar o diálogo atento
a alguma observação que o comunicante faça e que possa servir de base a
atingir-lhe o ponto sensível;
10. Descrentes. Dizem-se frios, céticos, ateus. O doutrinador
tem, porém, um argumento favorável ao mostrar-lhes que, apesar do que pensam,
continuam vivos e se comunicam através da mediunidade. Pode-se dizer-lhes ainda
que essa indiferença resulta dos sofrimentos por que passam, mas que isso não
os levará a nada de bom, e sim a maiores dissabores e a uma solidão
insuportável. Não se deve tentar provar que Deus existe, mas, em primeiro
lugar, tentar despertá-los para a realidade da vida. Depois, o doutrinador
dirá, com bastante tato, que somente o Pai pode oferecer-lhes o remédio e a
cura para seus males;
11. Amedrontados. É necessário infundir-lhes confiança,
mostrando que naquele recinto eles estão a salvo de qualquer ataque, desde que
também se coloquem sob a proteção de Jesus;
12. Vingativos. A vingança e o ódio perturbam os Espíritos
vingativos, por isso é preciso levá-los a refletir sobre si mesmos, para que
verifiquem o estado em que se encontram e o mal que o ódio e a vingança
produzem nos indivíduos que odeiam e desejam vingança. O doutrinador, tendo sempre
em mente a orientação dada por Allan Kardec no cap. 28, item 81, de “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, deve enfatizar que a força que eles tentam
demonstrar se dilui ante o poder do amor que dimana de Jesus;
13. Espíritos que auxiliam os obsessores. Deve-se dizer-lhes que ninguém é chefe de
ninguém e que o nosso único chefe é Jesus. O esclarecedor mostrará também o mal
que estão praticando e do qual advirão sérias conseqüências para eles mesmos;
14. Obsessores inimigos do Espiritismo. Deve-se evitar comentários sobre religião,
porquanto geralmente nossos adversários são ligados a outros credos religiosos.
O diálogo deve ser em torno dos ensinamentos de Jesus, comparando-se o que o
Mestre ensinou e as atitudes dos que se dizem seus legítimos seguidores;
15. Galhofeiros e zombeteiros. É preciso ter muita paciência com tais
entidades, mantendo-se elevado o teor dos pensamentos. O diálogo buscará
torná-los conscientes da inutilidade de sua atitude, mostrando-lhes que o riso
encobre, comumente, o medo, a solidão e o desassossego;
16. Espíritos ligados a terreiro e magia. Muitas vezes estão vinculados a algum nome ou
caso que esteja sendo tratado pelo grupo. O esclarecedor irá observar a
característica apresentada, fazendo a abordagem correspondente;
17. Mistificadores. Há mistificadores que se comunicam aparentando
ser um sofredor, um necessitado, com a finalidade de desviar o ritmo das
tarefas e de ocupar o tempo. O médium experiente e o grupo bem afinizado os
identificarão, mas é preciso para isso vigilância e discernimento. As vibrações
do Espírito permitem ao médium captar sua real intenção. No momento da
avaliação, após a reunião, o médium deve declarar o que sentiu e qual era o
verdadeiro objetivo do comunicante.
Às sugestões
de Suely Caldas Schubert acrescentamos algumas recomendações feitas por Edgard
Armond ( ) em sua obra:
I. Espíritos
portadores de moléstias. Deve-se dizer-lhes que tais enfermidades são simples
reflexos perispirituais de perturbações do corpo físico e que, para
eliminá-las, basta que o sofredor as varra de sua mente pela vontade, use da
prece para readquirir suas forças e se disponha a qualquer trabalho construtivo
a bem do próximo;
II. Espíritos
inconscientes, em período de readaptação ao novo meio. O recurso em tais casos
são as preces e as vibrações fluídicas realizadas no ato pelos auxiliares do
trabalho, verificando-se que muitas vezes o contato do sofredor com a corrente
basta para o seu despertamento;
III. Suicidas.
A doutrinação deve visar, quando for possível, ao esclarecimento sobre o
equívoco que é o suicídio, enfatizando-se que o corpo é o santuário do Espírito
encarnado e elemento de imenso valor para a realização das provas necessárias à
redenção espiritual neste plano, principalmente o resgate de dívidas
pretéritas;
IV. Portadores
de perturbações psíquicas como tristeza, desânimo, manias, fobias etc. Devem
ser instruídos sobre o valor das atividades construtivas e da necessidade do
seu despertamento para as lutas do porvir.
Resultados da doutrinação
Os benefícios
da desobsessão são incalculáveis. André Luiz ( ) assevera: "Erraríamos
frontalmente se julgássemos que a desobsessão apenas auxilia os desencarnados
que ainda pervagam nas sombras da mente. Semelhantes atividades beneficiam a
eles, a nós, bem assim os que nos partilham a experiência cotidiana, seja em
casa ou fora do reduto doméstico e, ainda, os próprios lugares espaciais em que
se desenvolve a nossa influência".
O referido autor espiritual mostra-nos, então,
que a desobsessão areja os caminhos mentais e nos imuniza contra os perigos da
alienação, estabelecendo vantagens ocultas em nós, para nós e em torno de nós.
Refere ele na mesma obra: “Através dela, desaparecem doenças-fan-tasmas,
empeços obscuros, insucessos, além de obtermos com o seu apoio espiritual mais
amplos horizontes ao entendimento da vida e recursos morais inapreciáveis para
agir, diante do próximo, com desapego e compreensão". ( )
Os resultados
da doutrinação dependem do ambiente formado pelos pensamentos do dirigente e
dos participantes, da condição moral que o dirigente apresente para orientar os
Espíritos e da própria condição espiritual da entidade, que pode aceitar ou não
os conselhos e esclarecimentos que recebe. O resultado dependerá também dos
métodos utilizados, que devem ser aplicados de acordo com a circunstância e a
necessidade do momento.
Ensina
Herculano Pires ( ): “A doutrinação espírita equilibrada, amorosa, modifica a
nós mesmos e aos outros, abre as mentes para a percepção da realidade-real que
nos escapa, quando nos apegamos à ilusão das nossas pretensões individuais,
geralmente mesquinhas”.
Visto que o
objetivo da doutrinação dos Espíritos é o esclarecimento da entidade
comunicante quanto ao seu estado transitório de perturbação, as causas de seus
sofrimentos e a forma pela qual poderá encontrar a solução para seus problemas,
o esclarecedor e todos os membros do grupo mediúnico são chamados a vibrar
amorosamente em favor do Espírito comunicante, demonstrando solidariedade com o
seu sofrimento e emitindo pensamentos de auxílio e apoio moral.
Depois de
esclarecido e de haver aceito o novo caminho que se lhe abre, ele apresentará,
sem dúvida, mudanças no seu modo de agir.
Se
empedernido, mostrar-se-á tocado e sensível aos ensinamentos cristãos, buscando
nova forma de encarar a vida; se revoltado, mostrar-se-á submisso à Lei
suprema, que não é injusta com ninguém; se odioso, observará as conseqüências
em si mesmo de sua semeadura infeliz e procurará dominar seus maus sentimentos;
se desesperado, notará agora novas possibilidades de alcançar a paz através do
trabalho e da fé ativa.
A doutrinação
abre, assim, para os desencarnados um novo panorama de vida, onde novas
atividades se descortinam, com possibilidades de trabalho, felicidade e
progresso.
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