1. INTRODUÇÃO
O
papel da religião é o de explicar os conteúdos existenciais do ser humano: de
onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para aonde vamos depois da morte.
Quando indagamos sobre o papel da religião, associamo-lhe a idéia do sentimento
religioso, um dos mais complexos sentimentos que fundamentam a essência do ser
humano. É um sentimento natural, como se vê claramente na Lei de Adoração. É
sempre uma reverência ao Criador, ao Ser Supremo, ao Ser Sobrenatural, ao
Desconhecido etc. Ele, em si, independe da razão, da inteligência, da cultura,
do estudo. É natural, e por isso mesmo adquire diversas formas.
2. CONCEITO DE RELIGIÃO
2.1. HISTÓRICO
O
Totemismo, a mais primitiva das religiões, com a idéia de totem, maná e tabu, subordina um grupo de homens chamado clã aos
seres considerados sagrados. O totem refere-se a tudo o que os membros de um
clã julgam sagrados. Podem ser animais, árvores, pessoas etc. O termo mana designa uma força, material e
espiritual, comum aos seres e coisas sagrados. O tabu — proibições — visa, essencialmente, a separar o sagrado do
profano. (Challaye, 1981, cap. I)
O
animismo é a religião que coloca em toda a natureza espíritos mais ou menos
análogos ao espírito do homem. O Animismo foi, a princípio, chamado Fetichismo,
coisa encantada, dotada de força mágica (Challaye, 1981, cap. II).
A
Religião do Egito mostra-nos numerosas sobrevivências do Totemismo; um Animismo
manifestado especialmente pela importância atribuída à vida futura dos mortos;
um Politeísmo que alguns tentaram orientar para o Monoteísmo (Challaye, 1981,
p. 44). Diz Emmanuel “Que o destino e a
comunicação dos mortos e a pluralidade das existências e dos mundos eram para
eles problemas solucionados e conhecidos” (Xavier, 1972, p. 45). As Religiões
da Índia apresentam-nos uma mistura de abundantes sobrevivências totêmicas e
animistas e de um Politeísmo que se orienta ora para o Monoteísmo, ora para um
piedoso Ateísmo (Challaye, 1981, p. 59).
O
Judaísmo é a religião dos israelitas ou hebreus ou judeus. O documento
essencial sobre o Judaísmo é o livro sagrado de Israel, o Antigo Testamento. A
palavra testamento foi introduzida pela Igreja Cristã; é má tradução do
vocábulo aliança, pois trata-se da aliança entre Deus e a humanidade. O
Decálogo, que a tradição atribui a Moisés, é uma bela página de literatura
religiosa (Challaye, 1981, p. 140-152).
O
Cristianismo é a religião dos Cristãos. É uma religião monoteísta que coloca em
primeiro plano a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho Jesus
Cristo, Salvador da humanidade (Challaye, 1981, p. 202).
O
Islamismo é termo erudito que designa a religião do Islão (assim chamdo pelos
muçulmanos, seus adeptos), fundada pelo profeta Maomé e baseada no Corão (livro
que lhe foi revelado por Deus) (Enciclopédia Luso-Brasileira).
Historicamente,
a religião é a crença em forças, poderes, deuses sobre-humanos; impotência
perante esses poderes; desejo de salvação.
Fenomenologicamente,
a religião está ligada ao sagrado: objeto, lugar, tempo, ritual, palavra etc.
2.2. ETIMOLOGIA
A
palavra religião é de origem latina (religio).
O significado não é claro. Cícero (106-43 a. C.) no De Natura Deorum afirma que a palavra vem da raiz relegere
(“considerar cuidadosamente”), oposto de neglere,
descuidar. Já Lactâncio, escritor cristão (m. 330 d.C.), diz que vem de religare (“ligar”, “prender”). Para
Cícero, a religião é um procedimento consciencioso, mesmo penoso, em relação
aos deuses reconhecidos pelo Estado. Para Lactâncio, a religião liga os homens
a Deus pela piedade. Um termo de partida e um de chegada, em que princípio e
fim são os mesmos. As duas raízes complementam-se. (Enciclopédia
Luso-Brasileira)
3. CONCEPÇÕES REDUTIVAS DA
RELIGIÃO
a)
CONCEPÇÃO MÍTICO-MÁGICA: a Religião é uma
ilusão ou uma superstição. A Religião ao entrar em conflito com a razão,
torna-se dogmática para poder subsistir.
b)
CONCEPÇÃO GNÓSTICA: a filosofia, filha rebelde da
teologia, transforma-se numa religião, ao buscar a salvação através do
conhecimento (gnose).
c)
CONCEPÇÃO MORAL: o objeto da Religião é o mesmo da
moral natural.
d)
CONCEPÇÃO ANTROPOLÓGICA: para D. Hume a
experiência do terror é a origem da religião. Augusto Comte ao propor uma
religião da humanidade abre uma nova perspectiva religiosa à consideraçào do
homem moderno, limitando o âmbito do conceito de transcendência às coordenadas
intramundanas.
e)
CONCEPÇÃO SOCIOLÓGICA: segundo E. Durkheim as
concepções religiosas têm por objeto, antes de mais, explicar e exprimir não o
que as coisas têm de extraordinário, mas ordinário.
f)
CONCEPÇÃO IRRACIONALISTA: de acordo com vários
filósofos, a religião é um campo autônomo: não é o do conhecer, nem o do fazer,
nem o do esperar, mas a contemplação extática do infinito.
g)
CONCEPÇÃO PSICOLÓGICA: segundo Freud a religião é uma
neurose obsessiva. (Enciclopédia Luso-Brasileira)
4. OS FUNDAMENTOS DA RELIGIÃO
4.1. SALVAÇÃO
Muita
gente acredita que salvar-se será livrar-se de todos os riscos, na conquista da
suprema tranqüilidade. Observe os primeiros cristãos: quanto não foi o
sofrimento pelas suas mortes nas arenas romanas? Não são poucos os apodos, os
sarcasmos, as zombarias daqueles que empreendem a grande batalha de se unir ao
Cristo.
Salvar-se,
pois, não será subir ao Céu com as alparcas do favoritismo religioso, mas sim
converter-se ao trabalho incessante do bem, para que o mal se extinga no mundo.
Salvar-se é, portanto, levantar, iluminar, ajudar e enobrecer, e salvar-se é
educar-se alguém para educar os outros. É a responsabilidade de se conduzir e
melhorar-se.
4.2. REVELAÇÃO
Os
fundadores de religiões tinham revelações e visões nas quais o próprio Deus os
chamava a atuar. Deus revelou-se a Moisés numa sarça que ardia. Quando Paulo
foi chamado por Jesus, no caminho de Damasco, cegou-o um resplendor celestial.
Maomé encontrou-se com o arcanjo Gabriel, que o reteve sem soltar, até que ele
lhe prometeu seguir o seu mandato de reconhecer a vontade de Alá.
A
Revelação Espírita, por sua natureza, participa ao mesmo tempo da revelação
divina e da revelação científica. Quer dizer, sua origem é divina e da
iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.
Nesse sentido, o Espiritismo procede da mesma forma que as ciências positivas,
aplicando o método experimental, ou seja, faz hipóteses, testa-as e tira as suas
conclusões. Por exemplo: à hipótese de que os Espíritos que não se consideram
mortos, os Espíritas devem provocar a manifestação de Espíritos dessa categoria
e observar (Kardec, A Gênese, p. 19 e 20).
4.3. FÉ
A
religião identifica-se com a fé. Para a maioria das religiões o que importa não
é o que acreditamos, mas como acreditamos. No uso popular dizemos isso quando
uma pessoa acredita ou faz algo
“religiosamente”. Acontece que ter a convicção ou “fé” em certas verdades
não nos isenta de estarmos em erro. Por isso Allan Kardec, no capítulo XIX de O Evangelho Segundo o Espiritismo,
esclarece-nos sobre os fundamentos da fé. Tenta distinguir a fé cega da fé
raciocinada bem como a fé humana da fé divina. Traça-nos as diretrizes para o
robustecimento de nossa fé, baseada na razão.
5. SENTIMENTO RELIGIOSO
5.1. RELIGIÃO E RELIGIÕES
Do
ponto de vista social, as religiões são sistemas de símbolos, dependentes de um
fundador, que teve a experiência religiosa original com modalidade própria.
Esse sistema organizado de símbolos, ligado à tradição, contribui para que os
indivíduos concretos adotem atitude religiosa pessoal. Desde a mais alta
Antigüidade a apresentação externa do símbolo vem se modificando, mas, muitas
vezes, o conteúdo intrínseco continua o mesmo, ou seja, apenas transferimos os
valores que eram próprios do Totemismo, do Fetichismo, e do Animismo para a
época moderna: instituímos tabus, adoramos os santos e seguimos cegamente as
determinações de um líder religioso.
Faz-se
preciso, na época atual, estabelecer a diferença entre religião e religiões. “A religião é o sentimento divino que prende
o homem ao Criador. As religiões são organizações dos homens, falíveis e
imperfeitas como eles próprios; dignas de todo o acatamento pelo sopro de
inspiração superior que as faz surgir, são como gotas de orvalho celeste,
misturadas com os elementos da terra em que caíram. Muitas delas, porém, estão
desviadas do bom caminho pelo interesse criminoso e pela ambição lamentável dos
seus expositores; mas, a verdade um dia brilhará para todos, sem necessitar da
cooperação de nenhum homem”. (Xavier,
1981, p. 37)
5.2. RELIGIÃO COMO SISTEMA
Alguns
autores, como Émile Durkheim, Mircea Eliade e Claude Lévi-Strauss, enfatizaram
todos a idéia de que a religião
corresponde a certas estruturas profundas. Embora, contrários em muitos pontos
de vista, o que há de comum principalmente entre Mircea Eliade e Claude
Lévi-Strauss é que ambos valorizam as “regras” segundo as quais a religião é
construída e, portanto, o seu caráter sistêmico; e ambos ressaltam a autonomia
da religião em relação à sociedade.
Como
traduzir para a prática a noção vaga de que a religião é um sistema? “No caso dos dogmas cristãos, é impossível
saber (empiricamente) se Jesus Cristo pertence à mesma categoria de Deus Pai ou
se lhe é inferior e, se não for nenhum desses o seu caso, qual é a relação
hierárquica exata entre os dois.
Mas é perfeitamente possível
predizer, se forem conhecidos os dados do sistema (neste caso, que há uma
Trindade divina composta por três “pessoas” ou, pelo menos por três membros que
têm nomes individuais), todas as soluções possíveis para o problema, as quais,
na realidade, não são em absoluto “históricas” (embora tenham sido enunciadas
por personalidades distintas em épocas distintas), pois estão sincronicamente
presentes no sistema”. (Eliade, 1994, p. 18 a 20)
5.3. MEIOS E FINS
O
fim da religião é a salvação da alma. Contudo, preferimos prender muitas
pessoas a nós ou à nossa Igreja, impedindo-as de se salvarem em outra qualquer.
Quer dizer, confundimos os meios com os fins. É preciso, pois, muito tato e
muita perspicácia para não criarmos uma falsa adoração em todos aqueles que nos
ouvem e que por nós tem certa simpatia.
5.4. TER RELIGIÃO E SER RELIGIOSO
O
filósofo Dewey faz uma distinção entre ter uma religião e ser religioso. Para
ele, ter uma religião é pertencer a uma Igreja e obedecer aos dogmas por ela
impostos. Ser religioso é encaminhar o pensamento para os aspectos cósmicos da
vida, ou seja, para a humildade, a simplicidade e o amor ao próximo. A Parábola
do Bom Samaritano, pronunciada por Jesus, é um bom exemplo. Nela, Jesus retrata
o Samaritano, considerado herege,
fazendo o que os conhecedores da lei e da religião deveriam fazer e não o
faziam.
6. ESPIRITISMO
É
o Espiritismo uma religião? Prende-se ao sentimento religioso? É uma
manifestação fortuita? Tornar-se-á uma crença comum? Será uma Religião
Universal? Eis algumas perguntas valiosas em nossa reflexão sobre a religião.
Muita
tinta se gastou para afirmar ou negar que o Espiritismo seja uma religião. De
acordo com Allan Kardec, O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na
terra. Reformará a legislação, retificará os erros da História, restaurará a
religião do Cristo, instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que
parte do coração e vai direto a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina,
ou nos degraus de um altar. Extinguirá para sempre o ateísmo e o materialismo.
(Kardec, Obras Póstumas, p. 299)
7. CONCLUSÃO
Se
Doutrina Espírita é de libertação, por que ainda nos aprisionamos em algumas
atitudes dogmáticas? Os Espíritos amigos sempre nos advertem que cada um terá
de fazer a caminhada evolutiva por si mesmo. Mas, acostumados a sermos mandados
por outrem, não temos iniciativa própria. Eis uma advertência que deve ser
constantemente lembrada.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CHALLAYE,
F. - As Grandes Religiões. São Paulo,
IBRASA, 1981.
ELIADE,
M. e COULIANO, I, P. - Dicionário das
Religiões. São Paulo, Martins Fontes, 1994.
Enciclopédia
Luso - Brasileira de Cultura. Lisboa,
Verbo, s. d. p.
KARDEC,
A. A Gênese - Os Milagres e as Predições
Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976.
KARDEC,
A. - Obras Póstumas. 15. ed., Rio de
Janeiro, FEB, 1975.
XAVIER,
F. C. Emmanuel (Dissertações Mediúnicas),
pelo Espírito Emmanuel. 9. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1981.
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